quinta-feira, 25 de abril de 2013


 A  Bíblia  não  é  um  livro  qualquer.  A  origem  dela  está  em  Deus,  que  falou  através  de homens separados para registrar sua Palavra. Sabemos que a questão do caráter humano das  Escrituras  é  algo  acidental  ou  periférico:  os  homens  escolhidos  por  Deus  para registrar  as  Escrituras  eram  pessoas  de  carne  e  osso,  que  viveram  em  determinado período  histórico  enfrentando  problemas  específicos.  Não  há  lugar  para  nenhum docetismo:  os  autores  secundários  tiveram  um  papel  ativo  e  passivo.  No  entanto, devemos  também  acentuar,  e  este  é  o  nosso  ponto  neste  texto  [1],  que  o  Espírito chamou seus servos, revelou a si mesmo e sua mensagem, dirigiu, inspirou e preservou os registros feitos por esses homens. Como afirmou Gerard Van Groningen:  

O  Espírito  Santo  habitou  em  certos  homens,  inspirou-os,  e  assim  dirigiu-os  que eles,  em  plena  consciência,  expressaram-se  na  sua  singular  maneira  pessoal. O Espírito capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os  de  incluir  qualquer  coisa  que  fosse  contrária  a  essa  verdade  de  Deus.  Ele também  impediu-os  de  escrever  coisa  que  não  eram  necessárias.  Assim,  homens escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem [2].  

Essa  compreensão,  que  advém  das  próprias  Escrituras,  caracteriza  distintamente  o cristianismo:  os  profetas  não  falaram  aleatoriamente  o  que  pensavam;  antes, “testificaram  a  verdade  de  que  era  a  boca  do  Senhor  que  falava  através  deles”  [3].

Sobre essa questão Calvino declarou: 
Eis  aqui  o  principio  que  distingue  nossa  religião  de  todas  as  demais,  ou  seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer  dos  homens  ou  produzidos  pelas  mentes  humanas  como  uma  fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo [4].  

Nas Escrituras temos todos os livros que Deus quis  que fossem preservados para nossa edificação: 
Aquelas [epístolas] que o Senhor quis que fossem indispensáveis à sua Igreja, Ele as consagrou por sua providência para que fossem perenemente lembradas. Saibamos, pois,  que  o  que  foi  deixado  nos  é  suficiente,  e  que  sua  insignificância  não acidental; senão que o cânon das Escrituras, o qual se encontra em nosso poder, foi mantido sob controle através do grandioso conselho de Deus [5].  

Nota: 
[1]  Veja,  para  uma  perspectiva  mais  ampla,  Hermisten  M.  P.  Costa,  Inspiração  e inerrância  das  Escrituras:  uma  perspectiva  reformada,  Casa  Editora  Presbiteriana
(www.cep.org.br) 
[2] Revelação messiânica no Velho Testamento, p. 64-65. 
[3] João Calvino, As pastorais, p. 262. 
[4]  As  Pastorais,  p.  262.    E  outro  lugar  Calvino  diz  que  os  apóstolos  foram  “certos  e autênticos amanuenses do Espírito Santo” (As institutas, IV.8.9). No entanto, devemos entender que Calvino usa essa expressão não para sustentar o “ditado” divino, mas para demonstrar que os apóstolos não criaram da própria imaginação sua mensagem, antes a receberam diretamente do Espírito. Ou seja, ele se refere ao resultado do registro, não ao processo em si. Entedia que Moisés escreveu os cinco livros da Lei “não somente sob a orientação do Espírito do Deus, mas porque Deus mesmo os tinha sugerido, falando-lhes com palavras de sua própria boca” (Calvin’s Commentaries, vol. III, p. 328).
 [5]João Calvino, Efésios, p. 86, Editora Parakletos

Fonte: Fundamentos da teologia reformada, pg. 42-44, Editora Mundo Cristão.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott