Por Wayne Grudem
3.
As palavras de Deus são o padrão supremo de verdade.
Em
João 17, Jesus ora ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra
é a verdade” (Jo17.17).
Esse versículo é interessante porque Jesus não usa um adjetivo,
alēthinos oualēthēs
(“verdadeira”), que era o esperado, para dizer que a ”tua
palavra é a verdade”.
Ao
contrário, ele usa um substantivo, alētheia (“verdade”), para
dizer que a Palavra de Deus não é simplesmente “verdadeira”,
mas é a própria verdade.
A
diferença é significativa, porque essa afirmação nos encoraja a
pensar na Bíblia não simplesmente como “verdadeira” no
sentido em que a conformamos ao padrão mais alto de verdade, mas,
antes, encoraja-nos a pensar da Bíblia como ela própria o padrão
final de verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus
é a definição última do que é verdadeiro e do que não é
verdadeiro: a Palavra de Deus, em si mesma, é a verdade. Assim,
devemos pensar na Bíblia como o padrão último da verdade, o ponto
de referência pelo qual qualquer outra alegação de veracidade
possa ser medida.As declarações que se conformam à Escritura são
“verdadeiras”, ao passo que as que não se conformam à Escritura
não o são.
Então,
o que é a verdade? A verdade é o que Deus diz, e temos o que Deus
diz (exatamente, não exaustivamente) na Bíblia.
Essa
doutrina da veracidade absoluta da Escritura permanece em contraste
claro com a concepção comum na sociedade moderna que muitas vezes é
chamada pluralismo.
O
pluralismo é o pensamento de que cada pessoa tem uma perspectiva
sobre a verdade que é tão válida como a perspectiva de outra
pessoa qualquer — portanto, não devemos dizer que a religião ou o
padrão ético de outra pessoa esteja errado. De acordo com o
pluralismo, não podemos conhecer a verdade absoluta; podemos somente
ter perspectivas e expectativas próprias. Naturalmente, se o
pluralismo é verdadeiro, a Bíblia não pode ser o que ela declara
ser: as palavras que o único e verdadeiro Deus, o criador e juiz de
todo o mundo, nos tem falado.
O
pluralismo é um aspecto do pensamento contemporâneo global do mundo
chamado pós-modernismo.
O pós-modernismo não sustentaria simplesmente que nunca podemos
encontrar a verdade absoluta; ele diria que a verdade absoluta não
existe. Todas as tentativas de afirmar a verdade em uma ou em outra
idéia são justamente o resultado de nossa origem, cultura,
tendências, projetos pessoais (especialmente nosso desejo de poder).
Tal visão do mundo, é claro, opõe-se diretamente à visão
bíblica, que vê a Bíblia como verdade que nos foi dada da parte de
Deus.
4.
Podem alguns fatos novos contradizer a Bíblia?
Poderá
qualquer novo fato científico ou histórico que venha a ser
descoberto contradizer a Bíblia? Aqui podemos dizer com confiança
que isso nunca acontecerá é algo impossível. Se qualquer “fato”
suposto for descoberto que seja considerado contrário à Escritura,
então (se entendemos a Escritura corretamente) tal “fato” deve
ser falso, porque Deus, o autor da Escritura, conhece todos os fatos
verdadeiros (passados, presentes e futuros). Nenhum acontecimento
inesperado aparecerá do qual Deus não tenha tido conhecimento no
passado e que não tenha levado em conta quando fez a Escritura ser
escrita. Cada fato verdadeiro é algo que Deus já conhecia desde
toda a eternidade e, portanto, não poderia contradizer as palavras
de Deus na Escritura.
Não
obstante, deve ser lembrado que o estudo científico ou histórico
(assim como outras espécies de estudo da criação) pode fazer-nos
reexaminar a Escritura para ver se ela realmente ensina o que
pensamos que ela ensinava. Por exemplo, a Bíblia não ensina que o
sol gira ao redor da terra só porque ela usa descrições dos
fenômenos como os vemos de nossa perspectiva, nem pretende descrever
as operações do universo de algum ponto “fixo” arbitrário em
algum lugar no espaço. Todavia, até o estudo da astronomia ter
avançado o suficiente para demonstrar a rotação da terra sobre o
próprio eixo, as pessoas presumiam que a Bíblia ensinava que o sol
girava ao redor da terra. Assim, o estudo dos dados científicos
levou ao reexame dos textos bíblicos apropriados. Portanto, todas as
vezes que confrontados algum “fato” que parece contradizer a
Escritura, devemos não somente examinar os dados apresentados para
demonstrar o fato em questão; devemos também reexaminar os textos
bíblicos apropriados para ver se a Bíblia realmente ensina o que
pensamos que ela ensina. Podemos fazer isso com confiança, pois
nenhum fato verdadeiro jamais contrariará as palavras do Deus que
conhece todos os fatos e que nunca mente.
Autor:
Wayne Grudem
Fonte:
Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova.
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott