terça-feira, 30 de abril de 2013





Por Wayne Grudem 

Existe algum papel a ser desempenhado pelos estudiosos da Bíblia ou por aqueles com
conhecimento especializado em hebraico (para o AT) e em grego (para o NT)? Certamente há uma função para eles em ao menos quatro áreas.


Primeiro, eles podem ensinar a Escritura com muita clareza, comunicando o seu conteúdo a outros, e assim cumprem o ofício de ”mestre”, que é mencionado no NT (lCo 12.28; Ef 4.11).


Segundo, eles podem explorar novas áreas para o entendimento dos ensinos da Escritura. Essa exploração raramente envolverá a negação dos principais ensinos que a igreja tem sustentado através dos séculos; muitas vezes, no entanto, envolverá a aplicação da Escritura a novas áreas da vida, em resposta às questões difíceis que têm sido levantadas tanto por crentes como por não-crentes em cada novo período da história, bem como a contínua atividade de refinar e tornar mais preciso o entendimento da igreja dos pontos detalhados de interpretação de versículos isolados ou de assuntos de doutrina ou de ética.


Terceiro, eles podem defender os ensinos da Bíblia contra os ataques de outros estudiosos ou daqueles com treinamento técnico especializado. O papel de ensino da Palavra de Deus às vezes envolve a correção de falsos ensinos. Uma pessoa deve ser capaz não somente de “encorajar outros pela sã doutrina”, mas também de “refutar os que se opõem a ela” (Tt 1.9; 2Tm 2.25: “Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem...”; e Tt 2.7,8). Algumas vezes, os que atacam os ensinos bíblicos têm treinamento especializado e conhecimento técnico em estudos históricos, lingüísticos ou filosóficos e usam esse preparo para montar ataques sofisticados contra o ensino da Escritura. Em tais casos, os crentes com habilidades especializadas semelhantes podem usar seu preparo para entender e responder a tais ataques. 


Em última análise, eles podem suplementar o estudo da Escritura para o benefício da igreja. Estudiosos da Bíblia muitas vezes têm o preparo que os capacitará a relacionar os ensinos da Escritura à rica história da igreja e a tornar a interpretação da Escritura mais precisa, bem como o seu significado mais vívido, relacionado ao conhecimento maior das línguas e culturas nas quais a Bíblia foi escrita.

Essas quatro funções beneficiam a igreja como um todo, e todos os crentes devem ser
agradecidos por aqueles que as realizam. Contudo, essas funções não incluem o direito de
decidir pela igreja como um todo qual é a verdadeira ou falsa doutrina, ou qual é a conduta
adequada para uma situação difícil. Se tal direito de preservação fosse dos estudiosos da Bíblia formalmente treinados, então eles se tornariam a elite governante na igreja, e o funcionamento ordinário do governo da igreja, como descrito no NT, cessaria de existir. O processo de tomar decisões pela igreja deve ser deixado aos oficiais da igrejas, sejam eles estudiosos ou não (e, nas igrejas onde há a forma congregacional de governo, não somente aos oficiais, mas também às pessoas da igreja como um todo). 

Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova
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sexta-feira, 26 de abril de 2013


 

 Por Wayne Grudem 
 
 3. As palavras de Deus são o padrão supremo de verdade.

Em João 17, Jesus ora ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo17.17). Esse versículo é interessante porque Jesus não usa um adjetivo, alēthinos oualēthēs (“verdadeira”), que era o esperado, para dizer que a ”tua palavra é a verdade”.
Ao contrário, ele usa um substantivo, alētheia (“verdade”), para dizer que a Palavra de Deus não é simplesmente “verdadeira”, mas é a própria verdade.
A diferença é significativa, porque essa afirmação nos encoraja a pensar na Bíblia não simplesmente como “verdadeira” no sentido em que a conformamos ao padrão mais alto de verdade, mas, antes, encoraja-nos a pensar da Bíblia como ela própria o padrão final de verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus é a definição última do que é verdadeiro e do que não é verdadeiro: a Palavra de Deus, em si mesma, é a verdade. Assim, devemos pensar na Bíblia como o padrão último da verdade, o ponto de referência pelo qual qualquer outra alegação de veracidade possa ser medida.As declarações que se conformam à Escritura são “verdadeiras”, ao passo que as que não se conformam à Escritura não o são.
Então, o que é a verdade? A verdade é o que Deus diz, e temos o que Deus diz (exatamente, não exaustivamente) na Bíblia.
Essa doutrina da veracidade absoluta da Escritura permanece em contraste claro com a concepção comum na sociedade moderna que muitas vezes é chamada pluralismo.
O pluralismo é o pensamento de que cada pessoa tem uma perspectiva sobre a verdade que é tão válida como a perspectiva de outra pessoa qualquer — portanto, não devemos dizer que a religião ou o padrão ético de outra pessoa esteja errado. De acordo com o pluralismo, não podemos conhecer a verdade absoluta; podemos somente ter perspectivas e expectativas próprias. Naturalmente, se o pluralismo é verdadeiro, a Bíblia não pode ser o que ela declara ser: as palavras que o único e verdadeiro Deus, o criador e juiz de todo o mundo, nos tem falado.
O pluralismo é um aspecto do pensamento contemporâneo global do mundo chamado pós-modernismo. O pós-modernismo não sustentaria simplesmente que nunca podemos encontrar a verdade absoluta; ele diria que a verdade absoluta não existe. Todas as tentativas de afirmar a verdade em uma ou em outra idéia são justamente o resultado de nossa origem, cultura, tendências, projetos pessoais (especialmente nosso desejo de poder). Tal visão do mundo, é claro, opõe-se diretamente à visão bíblica, que vê a Bíblia como verdade que nos foi dada da parte de Deus.

4. Podem alguns fatos novos contradizer a Bíblia?

Poderá qualquer novo fato científico ou histórico que venha a ser descoberto contradizer a Bíblia? Aqui podemos dizer com confiança que isso nunca acontecerá é algo impossível. Se qualquer “fato” suposto for descoberto que seja considerado contrário à Escritura, então (se entendemos a Escritura corretamente) tal “fato” deve ser falso, porque Deus, o autor da Escritura, conhece todos os fatos verdadeiros (passados, presentes e futuros). Nenhum acontecimento inesperado aparecerá do qual Deus não tenha tido conhecimento no passado e que não tenha levado em conta quando fez a Escritura ser escrita. Cada fato verdadeiro é algo que Deus já conhecia desde toda a eternidade e, portanto, não poderia contradizer as palavras de Deus na Escritura.
Não obstante, deve ser lembrado que o estudo científico ou histórico (assim como outras espécies de estudo da criação) pode fazer-nos reexaminar a Escritura para ver se ela realmente ensina o que pensamos que ela ensinava. Por exemplo, a Bíblia não ensina que o sol gira ao redor da terra só porque ela usa descrições dos fenômenos como os vemos de nossa perspectiva, nem pretende descrever as operações do universo de algum ponto “fixo” arbitrário em algum lugar no espaço. Todavia, até o estudo da astronomia ter avançado o suficiente para demonstrar a rotação da terra sobre o próprio eixo, as pessoas presumiam que a Bíblia ensinava que o sol girava ao redor da terra. Assim, o estudo dos dados científicos levou ao reexame dos textos bíblicos apropriados. Portanto, todas as vezes que confrontados algum “fato” que parece contradizer a Escritura, devemos não somente examinar os dados apresentados para demonstrar o fato em questão; devemos também reexaminar os textos bíblicos apropriados para ver se a Bíblia realmente ensina o que pensamos que ela ensina. Podemos fazer isso com confiança, pois nenhum fato verdadeiro jamais contrariará as palavras do Deus que conhece todos os fatos e que nunca mente.

Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. 
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Por Wayne Grudem 
1. Deus não pode mentir ou falar falsamente.

A essência da autoridade da Escritura é a sua capacidade de compelir-nos a crer nela e a obedecer-lhe, tornando tal crença e obediência equivalentes a crer e a obedecer ao próprio Deus. Porque as coisas são assim, é necessário considerar a veracidade da Escritura, pois, se pensamos que algumas partes da Escritura não são verdadeiras, naturalmente não seremos capazes de crer nelas.
Visto que os escritores bíblicos repetidamente afirmam que as palavras da Bíblia, embora humanas, são as próprias palavras de Deus, é apropriado olhar para os textos bíblicos que falam a respeito do caráter das palavras de Deus e aplicá-los ao caráter das palavras da Escritura. Especificamente falando, há certo número de passagens bíblicas que falam a respeito da veracidade da fala de Deus. Tito 1.2 declara que “Deus que não mente”. Porque Deus é um Deus que não pode falar mentiras, suas palavras são sempre confiáveis. Visto que toda a Escritura é falada por Deus, toda a Escritura deve ser verdadeira, como Deus o é. Não pode haver nada que não seja verdadeiro na Escritura. Hebreus 6.18 menciona duas coisas imutáveis (o juramento e a promessa de Deus) “nas quais é impossível que Deus minta”. Aqui o autor não diz meramente que Deus não mente, mas que é impossível para ele mentir. Embora a referência imediata seja somente o juramento e as promessas, se é impossível para Deus mentir nessas declarações, então certamente é impossível para ele mentir.

2. Portanto, todas as palavras da Escritura são completamente verdadeiras e sem erro em qualquer parte.
Visto que as palavras da Bíblia são as palavras de Deus, e visto que Deus não pode mentir ou falar falsamente, é correto concluir que não há nada inverossímil nem nenhum erro em qualquer parte das palavras da Escritura. Encontramos isso afirmado em diversos lugares da Escritura. “As palavras do SENHOR são puras, são como prata purificada num forno, sete vezes refinada” (Sl 12.6).Aqui o salmista usa uma figura vivida para falar da indissolúvel pureza das palavras de Deus; não há nenhuma imperfeição nelas. Também Provérbios 30.5 diz: “Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; ele é um escudo para quem nele se refugia”. Isso não se diz apenas de algumas das palavras da Escritura, mas de todas elas. De fato, a Palavra de Deus está firmada no céu por toda a eternidade: “A tua palavra, SFNH0R,para sempre está firmada nos céus” (Sl 119.89). Jesus pode falar da natureza eterna de suas palavras: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24.35). Esses versículos afirmam explicitamente o que estava implícito na exigência de que creiamos em todas as palavras da Escritura, a saber, que não há nada que não seja verdadeiro ou que seja falso afirmado em qualquer das declarações da Bíblia. 

Fonte: Teologia Sistemática do Autor; Ed. Vida Nova. 
leia a parte 2: http://areformahoje.blogspot.com.br/2013/04/a-veracidade-da-escritura-part-2-wayne.html 
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quinta-feira, 25 de abril de 2013


 A  Bíblia  não  é  um  livro  qualquer.  A  origem  dela  está  em  Deus,  que  falou  através  de homens separados para registrar sua Palavra. Sabemos que a questão do caráter humano das  Escrituras  é  algo  acidental  ou  periférico:  os  homens  escolhidos  por  Deus  para registrar  as  Escrituras  eram  pessoas  de  carne  e  osso,  que  viveram  em  determinado período  histórico  enfrentando  problemas  específicos.  Não  há  lugar  para  nenhum docetismo:  os  autores  secundários  tiveram  um  papel  ativo  e  passivo.  No  entanto, devemos  também  acentuar,  e  este  é  o  nosso  ponto  neste  texto  [1],  que  o  Espírito chamou seus servos, revelou a si mesmo e sua mensagem, dirigiu, inspirou e preservou os registros feitos por esses homens. Como afirmou Gerard Van Groningen:  

O  Espírito  Santo  habitou  em  certos  homens,  inspirou-os,  e  assim  dirigiu-os  que eles,  em  plena  consciência,  expressaram-se  na  sua  singular  maneira  pessoal. O Espírito capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os  de  incluir  qualquer  coisa  que  fosse  contrária  a  essa  verdade  de  Deus.  Ele também  impediu-os  de  escrever  coisa  que  não  eram  necessárias.  Assim,  homens escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem [2].  

Essa  compreensão,  que  advém  das  próprias  Escrituras,  caracteriza  distintamente  o cristianismo:  os  profetas  não  falaram  aleatoriamente  o  que  pensavam;  antes, “testificaram  a  verdade  de  que  era  a  boca  do  Senhor  que  falava  através  deles”  [3].

Sobre essa questão Calvino declarou: 
Eis  aqui  o  principio  que  distingue  nossa  religião  de  todas  as  demais,  ou  seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer  dos  homens  ou  produzidos  pelas  mentes  humanas  como  uma  fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo [4].  

Nas Escrituras temos todos os livros que Deus quis  que fossem preservados para nossa edificação: 
Aquelas [epístolas] que o Senhor quis que fossem indispensáveis à sua Igreja, Ele as consagrou por sua providência para que fossem perenemente lembradas. Saibamos, pois,  que  o  que  foi  deixado  nos  é  suficiente,  e  que  sua  insignificância  não acidental; senão que o cânon das Escrituras, o qual se encontra em nosso poder, foi mantido sob controle através do grandioso conselho de Deus [5].  

Nota: 
[1]  Veja,  para  uma  perspectiva  mais  ampla,  Hermisten  M.  P.  Costa,  Inspiração  e inerrância  das  Escrituras:  uma  perspectiva  reformada,  Casa  Editora  Presbiteriana
(www.cep.org.br) 
[2] Revelação messiânica no Velho Testamento, p. 64-65. 
[3] João Calvino, As pastorais, p. 262. 
[4]  As  Pastorais,  p.  262.    E  outro  lugar  Calvino  diz  que  os  apóstolos  foram  “certos  e autênticos amanuenses do Espírito Santo” (As institutas, IV.8.9). No entanto, devemos entender que Calvino usa essa expressão não para sustentar o “ditado” divino, mas para demonstrar que os apóstolos não criaram da própria imaginação sua mensagem, antes a receberam diretamente do Espírito. Ou seja, ele se refere ao resultado do registro, não ao processo em si. Entedia que Moisés escreveu os cinco livros da Lei “não somente sob a orientação do Espírito do Deus, mas porque Deus mesmo os tinha sugerido, falando-lhes com palavras de sua própria boca” (Calvin’s Commentaries, vol. III, p. 328).
 [5]João Calvino, Efésios, p. 86, Editora Parakletos

Fonte: Fundamentos da teologia reformada, pg. 42-44, Editora Mundo Cristão.
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terça-feira, 23 de abril de 2013

Calvino contra o ateísmo [ 1.3.1-3 ]


Do Livro 1, Capítulo 3

“Como o declara aquele pagão [Cícero], não há nenhuma nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem, no qual não esteja profundamente arraigada esta convicção: Deus existe!” (1.3.1, p.47)

Por que todas as culturas e povos adotam algum tipo de religião? A resposta, para Calvino, é simples. É algo que ele chama de “semente da religião”, uma noção geral da Divindade implantada pelo próprio Criador. É irônico, mas a idolatria torna-se uma das provas de que há um Deus.
“Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas.” (idem)

Porém, esse não é o tipo de conhecimento que nos leva à salvação. Pelo contrário, transforma-se em condenação, ao tornar os homens inexcusáveis. Isto é, ninguém pode apresentar a desculpa de “eu não sabia que existia um Deus”. Essa idéia é desenvolvida por Paulo nos primeiros capítulos de Romanos, ao demonstrar que os pagãos não poderão levantar esse argumento no dia do julgamento.
Portanto, a base para a responsabilidade do homem (como é bastante enfatizado pelo filósofo e teólogo Gordon Clark) é o conhecimento, e não a liberdade. Isso nos será importante mais para frente.
“Como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade.” (idem)

Com isso, o reformador nega qualquer possibilidade de um ateísmo real. Isso me lembra o caso de um amigo meu, que se diz agnóstico. Ao falar de certo temor que eu tinha, perguntei se em momentos de desespero ele é mais ateu ou mais crédulo. “Nessas horas sou crente”, respondeu.
“Pois, ainda que no passado tenham existido alguns, e hoje eles não são poucos, que neguem existir Deus, contudo, queiram ou não queiram, de quando em quando acode-lhes certo sentimento daquilo que desejam ignorar.” (1.3.2, p.48)

Por mais que o ser humano deseje, terá dificuldade em libertar-se da verdade implantada em sua mente. Seria exagero comparar a batalha dos ateus superstars contra a fé à luta de Quixote contra os moinhos, mas não podemos negar que a situação é parecida. A cada conversão ao ateísmo milhões de “fiéis” nascem por toda a terra.
“Donde concluímos que esta não é uma doutrina que se aprende na escola, mas que cada um, desde o ventre materno, deve ser mestre dela para si próprio, e da qual a própria natureza não permite que alguém esqueça, ainda que muitos há que põem todo seu empenho nessa tarefa” (1.3.3, p.49)

Para Calvino, ao contrário do que afirma Christopher Hitchens, a religião não envenena tudo, mas evita que o homem torne-se semelhante às criaturas que deveria dominar. Negar a existência de Deus é negar a imagem divina no homem, algo que vemos atualmente com bastante frequência. Não é incomum vermos especialistas (em alguma coisa) compararem o homem a uma máquina em busca de sexo e poder, a um animal mais esperto ou algo pior. Isso não é simplesmente uma metáfora. Para muitos, realmente é isso que somos.

“Os homens, uma vez que a religião lhes seja ausente da vida, não só em nada excedem aos animais, mas até em muitos aspectos lhes são muito mais dignos de lástima, porquanto, sujeitos a tantas espécies de males, levam de contínuo uma vida tumultuária e desassossegada. Portanto, o que nos faz superiores é tão-somente o culto de Deus, mediante o qual se aspira à imortalidade.” (1.3.3, p.50)

fonte: http://joaocalvino.net/2009/01/calvino-contra-o-ateismo-1-3-1-3/
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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mais Doutrina, Mais Cristo por Herman Hoeksema


Muitos em nossos dias encontram a causa de toda a dissensão e divisão na igreja em muita doutrina e em credos que são muito específicos em suas declarações doutrinárias. Eles advogam que todas essas declarações específicas de fé, pelas quais cada igreja erige um muro de separação ao redor de si mesma, devem ser esquecidas, apagadas e eliminadas; que as confissões devem ser alargadas e generalizadas; e que sobre a base de tal ampla declaração de princípios gerais, as várias denominações devem se mesclar, e assim concretizar a unidade da igreja. Contudo, deve ser evidente que nessa forma, uma unidade externa pode ser deveras eficaz, mas somente à custa da verdade e à custa da fé da igreja, que é o mesmo que dizer que é uma unidade sem o Cristo da Escritura. A igreja não está interessada numa unidade externa que revela a si mesma numa instituição altamente humana.. 
 
A unidade da igreja está centrada em Cristo. Se a igreja há de crescer nessa verdadeira unidade, ela deve crescer em Cristo. Ela não deve ter menos de Cristo, mas sempre mais. E seu Cristo está nas Escrituras. Por conseguinte, ela deve apropriar o Cristo da Santa Escritura, o que significa que ela deve instruir e ser instruída na verdade. Ela não deve buscar união no caminho de menos, mas no caminho de mais rica e mais doutrina. Ela deve não somente colocar de lado as doutrinas de homens, sem dúvida, mas ela deve também crescer sempre na doutrina de Cristo. Que a verdadeira igreja seja sempre pequena no mundo! Todavia, ela não ousa buscar a realização da sua unidade em qualquer outra direção senão na do crescimento no conhecimento de Cristo, seu cabeça, até que “todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13). Somente aqueles que estão se esforçando para se aproximar dessa estatura é que estão realmente trabalhando para a manifestação da unidade da igreja, e tudo quanto for mais do que isso é do maligno.

Herman Hoeksema
Reformed Dogmatics, Vol. 2  
Extraido de: Monergismo
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Filosofia e Religião - Francis Schaeffer



 Deixe-me agora fazer duas observações genéricas. Primeiro, a filosofia e a religião lidam com as mesmas questões básicas. Os cristãos, especialmente os cristãos evangélicos, tendem  a  esquecer-se  disso.  A  filosofia  e  a  religião  não  tratam  de  questões  diferentes, embora dêem explicações diferentes e usem terminologia diferenciada. As questões básicas, tanto  da  filosofia  quanto  da  religião  (e  estou  me  referindo  à  religião  no  sentido  lato, incluindo o Cristianismo), são as questões do Ser (isto é, do que existe), do homem e seu dilema (da moral), da epistemologia (de como o homem adquire conhecimento). A filosofia lida com estes pontos,  mas o mesmo acontece com  a religião, incluindo o “Cristianismo evangélico ortodoxo”.

A segunda observação genérica refere-se aos dois sentidos da palavra filosofia, que  precisam manter-se completamente separados, se quisermos evitar confusões. O primeiro sentido é o da disciplina, um tópico do currículo acadêmico. Essa é a idéia que geralmente associamos  à  filosofia:  um  estudo  altamente  técnico  que  poucas  pessoas  são  capazes  de acompanhar.  Neste  sentido,  poucos  são  filósofos.  Mas  há  um  segundo  sentido  que  não devemos esquecer, se quisermos entender o problema da pregação do evangelho no mundo do século 20. Pois a filosofia também significa a visão de mundo de alguém

Neste sentido, todos  somos  filósofos,  pois  todos  temos  uma  visão  de  mundo.  Isso  vale  tanto  para  o homem cavando uma vala quanto para o filósofo na universidade.
Os cristãos têm tendido a desprezar o conceito de filosofia. Esta tem sido uma das fraquezas  do  Cristianismo  evangélico  ortodoxo  –  temos  nos  vangloriado  em  nosso
desprezo  à  filosofia  e  nos  orgulhado  excessivamente  da  condenação  de  tudo  quanto  diz respeito  ao  intelecto.  Nossos  seminários  teológicos  dificilmente  fazem  qualquer  relação entre  a  sua  teologia  e  a  filosofia,  principalmente  no  que  diz  respeito  à  filosofia contemporânea. Assim, os estudantes formam-se nos seminários teológicos sem a mínima noção de como relacionar o Cristianismo às visões de mundo a seu redor. Não que eles não saibam  respostas.  Pelo  que  tenho  observado,  a  maioria  dos  estudantes  que  se  tornam bacharéis em seminários teológicos desconhecem as perguntas. Na verdade, a filosofia é universal no seu escopo. Nenhum ser humano é capaz de viver sem uma visão de mundo; por isso, não há ser humano que não seja um filósofo.

Fonte:  O  Deus  que  se  Revela,  Francis  Schaeffer,
Editora Cultura Cristã, p. 41-42.
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sábado, 13 de abril de 2013

Um Inferno Fácil


 Thomas Watson
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto


“Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei estar abatido, e sei também ter abundância. Em todas e quaisquer circunstâncias, aprendi o segredo de estar contente – seja na fartura ou na fome, quer na abundância ou em necessidade.” (Filipenses 4:11-12, versão do autor)

Não importa qual aflição ou tribulação um filho de Deus possa enfrentar – esse é todo o inferno que ele terá! Qualquer que seja o eclipse sobre o seu nome ou bens – é apenas uma pequena nuvem que em breve se dissipará – e então o seu inferno será passado!
 

A morte começa o inferno do ímpio.
A morte termina o inferno do piedoso.

 

Pense consigo mesmo: “O que é a minha aflição? É somente um inferno temporário. Na verdade, se todo o meu inferno está aqui na terra – ele é apenas um inferno fácil. O que é o cálice da aflição, quando comparado com o da condenação?”

Lázaro não conseguia nem migalhas de pão; estava tão doente que os cães tinham piedade dele; e como se fossem seus médicos, lambiam suas feridas. Mas esse foi um inferno fácil – os anjos logo tiraram Lázaro dali! Se todo o nosso inferno está nesta vida – e no meio desse inferno, temos o amor de Deus – então não é mais inferno, mas paraíso! Se todo o nosso inferno está aqui sobre a terra, podemos ver o fim dele; ele toca apenas a nossa pele, mas não pode tocar a alma. É um inferno de curta duração. Após uma sombria noite de aflição, surge a brilhante manhã de glória! Visto que nossas vidas são curtas, nossas tribulações não podem ser longas! 


Assim como nossas riquezas tomam asas e voam, assim se dá com os
nossos sofrimentos! Aprendamos então, a estarmos contentes, em toda e qualquer situação.


Fonte:The Art of Divine Contentment, do puritano Thomas Watson.

Extraido de : Monergismo
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A Alternativa a um Deus Soberano


Rev. Mark R. Rushdoony
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto 

A alternativa a um Deus soberano é um homem soberano. A alternativa  a um Deus determinador é um homem determinador.
A idéia de Deus predestinando desde a eternidade (Ef. 1:4-5) é ofensiva  para  muitos.  Contudo,  a  alternativa  a  um  Deus  que  decreta  é  um  Deus espectador, um que é sujeito às ações dos homens no tempo e na história. O homem quer crer que está no controle. Até mesmo cristãos frequentemente querem um Deus que somente reaja aos homens, como um árbitro ou juiz. Seja qual for a extensão em que negamos a predestinação a Deus, transferimo- la ao homem.

Quando  os  homens  crêem  que  controlam  a  história,  eles  ficam determinados a fazê-lo, e grandes males acontecem porque eles devem então controlar os homens e as nações. Eles devem adquirir e exercer poder por tal controle.  Facismo,  comunismo  e  socialismo  são  exemplos  recentes  dos resultados de homens tentando determinar o curso da história. Os  homens  tentam  controlar  outros  com  idéias  menos austeras,  mas ainda utópicas, do futuro que esperam criar. 

O homem determinador procura monopolizar  a  educação.  John  Dewey  deixou  claro  que  o  objetivo  da educação pública deveria ser a socialização de indivíduos, que seriam cidadãos apropriados  da  sociedade  que  ele  imaginava.  O  homem  determinador procurar  controlar  a  economia  e  cria  um  papel-moeda  por  causa  das limitações  impostas  pelos  impostos  e  dívidas.  O  homem  determinador procura  o  Estado  como  a  avenida  pela  qual  ele  controla  os  outros.  Tais estadistas  podem  até  mesmo  fazer  da  democracia  uma  ferramenta  de imperialismo.  O  objetivo  de  controlar  os  outros,  mesmo  por  razões aparentemente boas, é um objetivo perverso. É brincar de Deus e presumir o direito de predestinar em seu lugar. Os  homens  que  procuram  controlar  nações,  exércitos,  dinheiro  e indivíduos não são receosos de ditar uma moralidade. Ou Deus governa e sua palavra-lei é autoritativa, ou o homem governo e sua palavra-lei é autoritativa. Negar a soberania de Deus sobre o tempo e a eternidade cria um vazio, e essa é a razão do homem negar isso. Os homens se precipitam no vazio que eles definiram. 

 Se  Deus  não  é  soberano,  então  o  homem  é.  Essa  é  a  fé  do humanismo:  que  o  homem  é  um  deus,  que  por  si  mesmo  conhece  ou determina o bem e o mal (Gn. 3:5). Sem um Deus soberano que transcende o tempo e a história, o homem assume essa prerrogativa. Ou Deus governa, ou então o homem. Ou Deus é soberano, ou então o homem. Ou Deus justifica o homem por sua livre graça, ou o homem é livre para se justificar. Desde  a  eternidade  Deus  declarou  nossa  justificação. 

 Desde  a eternidade  veio  a  causa  do  resultado,  nossa  conversão  pela  graça  recebida através da fé somente. A causa foi o decreto de Deus desde a eternidade; o resultado é nossa salvação no tempo e na história. A doutrina da predestinação soberana de Deus desde a eternidade de forma alguma mina a realidade da nossa justificação no tempo e na história. Antes,  ela  estabelece  o  significado  e  a  relevância  total  do  que  acontece  no tempo e na história, pois procede do decreto de um Deus transcendente de pleno significado.

Fonte: http://www.chalcedon.edu/ (traduzido com permissão)
Extraido de: Monergismo
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A Glória de Cristo na Sua União com a Igreja

 
 
A nossa união com Cristo é tão real que, na visão de Deus, é como se nós tivéssemos sofrido o que Cristo sofreu, sofrido para redimir a Igreja. Ele agiu gloriosamente quando levou "... em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" e "... padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (I Pedro 2:24; 3:18). O propósito do nosso santo e justo Deus foi o de salvar a Igreja, mas o pecado dos Seus remidos não podia ficar impune. Foi necessário, então, que a punição para aquele pecado fosse transferida daqueles que a mereciam, mas não podiam suportá-Ia para Aquele que não a merecia, porém poderia suportá-Ia. Este é o fundamento da fé cristã e toda a revelação divina contida nas Escrituras. Vamos examinar ainda mais um pouco essa verdade e considerar como ela está cheia da glória de Cristo.

1. Não é contrário à justiça divina que alguns sofram punição pelos pecados de outros. Confirmarei esta afirmação, por hora, apenas ao dizer que Deus, que não faz nada errado, sempre agiu assim. Quando Davi pecou, setenta mil homens foram destruídos por um anjo, e então Davi disse ao Senhor: "Eis que eu sou o que pequei, e eu o que iniquamente obrei; porém estas ovelhas o que fizeram? Sejam pois a tua mão contra mim e contra a casa de meu pai" (2 Samuel 24:17). Quando o povo de Judá foi levado cativo, Deus o puniu pelos pecados de seus antepassados, especialmente aqueles pecados cometidos nos dias de Manassés (2 Reis 23:26-27). E, finalmente, ao destruir a nação judaica, Deus a puniu pelo derramamento do sangue de todos os profetas desde o começo do mundo (Lucas 11:50-51).

2. Há sempre uma ligação especial entre aqueles que pecam e aqueles que são punidos. Por exemplo, há uma relação entre pais e filhos, entre reis e seus súditos. Há também a ideia de compartilhar a punição. Foi dito aos filhos de Israel: "E vossos filhos (como errantes) pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto" (Números 14:33). A punição devido aos seus pecados foi transferida para os filhos, mas parte da sua própria punição foi exatamente o conhecimento do que haveria de acontecer aos seus filhos.

3. Há uma união maior e um relacionamento mais íntimo entre Cristo e a Igreja do que existem em qualquer outro vínculo no mundo. Isso pode ser visto de três formas:

a. Há um elo natural de ligação entre Cristo e Sua Igreja. Deus fez todas as pessoas de um sangue (Atos 17:26). Cada um é irmão e vizinho do outro (Lucas 10:36). Essa mesma relação existe entre Cristo e a Igreja. "E visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hebreus 2:14). Há, entretanto, em dois aspectos, uma diferença entre a união de Cristo com a Igreja e a irmandade comum entre os homens. Primeiro, Ele tomou a nossa natureza sobre Si por um ato voluntário de Sua vontade, mas n6s não tivemos escolha quanto ao nosso relacionamento um com o outro pelo nascimento. Segundo, Ele entrou nessa união por apenas um propósito, ou seja, que em nossa natureza Ele pudesse redimir a Igreja "... para que, pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hebreus 2:14- 15).

b. Há uma união moral e espiritual entre Cristo e a Igreja. Isto é como o relacionamento existente entre a cabeça e os membros do corpo, ou entre a vinha e seus ramos (Efésios 1:22-23; João 15:1-2). É também como o elo de ligação entre maridos e esposas. "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25). Como Ele era o cabeça e marido da Igreja (que só poderia ser salva e tornada santa pelo Seu sangue e Seus sofrimentos), foi apropriado, então, que Ele assim sofresse, e era correto que os benefícios dos Seus sofrimentos fossem legados àqueles pelos quais Ele sofreu.

Uma objeção pode ser levantada em razão de que “... Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores", ou seja, não havia união entre Ele e a Igreja naquele tempo (Romanos 5:8). Diz-se que somos unidos a Cristo pela fé. Portanto, antes da nossa regeneração não estávamos unidos a Ele. Como, então, Ele poderia justamente sofrer a nosso favor? Respondo que era o propósito de Deus, antes dos sofrimentos de Cristo, que a Igreja (composta dos eleitos) pudesse ser a Sua esposa, para que Ele pudesse amá-Ia e sofrer por ela. Jacó amou a Raquel antes que ela se tornasse a sua esposa. Ele "... serviu por uma mulher, e por uma mulher guardou o gado" (Oséias 12:12). Raquel é chamada a esposa de Jacó por causa do seu amor para com ela e porque estava destinada a ser sua noiva antes que a tivesse desposado. Assim Deus, o Pai, deu todos os eleitos para Cristo, confiando-os a Ele, para serem salvos e santificados. Cristo mesmo diz ao Pai: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste: eram teus, e tu mos deste, e guardaram atua palavra. Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (João 17:6,9).

c. A terceira maneira pela qual Cristo está unido à Sua Igreja é mediante a nova aliança da qual Ele é a garantia e o penhor. "De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador" (Hebreus 7:22). Aqui está o âmago do mistério da forma sábia de Deus salvar a Igreja. A transferência dos pecados dos pecadores para Cristo, que é de toda maneira inocente, puro e reto em Si mesmo, é a vida e a alma de todo o ensinamento das Escrituras, O que Cristo fez por nós O torna glorioso para nós!

Vamos considerar a justiça de Deus ao perdoar os nossos pecados. Todos os eleitos de Deus são pecadores. Como pode Deus ser justo, então, se Ele os deixa sem punição, vendo que não poupou os anjos que pecaram, nem Adão quando ele pecou no princípio? A resposta está na união entre Cristo e a Igreja. Desde que Cristo representa a Igreja na presença de Deus, Deus justamente O pune por todos os pecados dela para que todos os seus membros estejam libertos e perdoados graciosamente. (Romanos 3:14-26). Na cruz, a santidade e justiça de Deus encontraram-se com a Sua graça e perdão. Esta é a glória que dá prazer aos corações e satisfaz as almas de todos os que creem. Quão maravilhoso é para eles verem Deus Se regozijando na Sua justiça e, ao mesmo tempo, manifestando misericórdia ao dar-lhes salvação eterna! No gozo desta gloriosa verdade, deixem-me viver, e nesta fé deixem-me morrer.

Cristo é glorioso, também, pela obediência à lei que Ele perfeitamente cumpriu. Era absolutamente necessário que a lei fosse cumprida e isto nunca poderia ser feito por nós. Através da união de Cristo com a Igreja, entretanto, a lei foi cumprida por nós. "Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Romanos 8:3-4).

Um entendimento pela fé desta glória de Cristo dispersará todos os temores e removerá todas as dúvidas de nossas pobres almas tentadas. Tal conhecimento será uma âncora que os firmará bem seguros em todas as tempestades e provações da vida, como também na morte.

  A Glória de Cristo, John Owen, Editora PES, paginas .40-44
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Podemos aceitar que existe um sentido genérico do amor de Deus. Ele demonstra e fala de amor ao mundo, à humanidade, à sua criação. Como calvinista, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar isso. Temos que entender, porém, que no sentido salvífico (a salvação eterna da perdição e condenação do pecado) o amor de Deus é derramado exclusivamente sobre o seu povo e, individualmente, sobre os que ele eficazmente chama para si. Sobre aqueles que responderão, ao chamado eficaz, abraçando a Cristo como único e suficiente Salvador.

A frase "Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador", entretanto, por mais que seja proferida e repetida, é uma forma simplista de expressar uma situação complexa, pois realmente é impossível separar o pecado do pecador, como se o pecado fosse uma entidade com vida independente, que apenas se utiliza do corpo e da mente do praticante.

Tiago (1.12-15) nos ensina que o pecado é gerado dentro das pessoas, partindo da própria concupiscência, externando sua prática em um relacionamento "simbiótico" (de dependência mútua) com o praticante. Sem barreiras e controles, enfim, sem a redenção, leva à morte.

O pecado é algo odioso em suas manifestações. Estas são verificáveis nas pessoas, pecadoras, sem as quais ele é indescritível e amorfo.

Em Romanos 9.11-18 a Bíblia fala do "aborrecimento" (ódio) de Deus contra Esaú, contrastando com o amor derramado sobre Jacó. Mas a Palavra de Deus expressa em outras ocasiões (além desse caso específico, de Esaú e Jacó) o ódio ("aborrecimento") de Deus a pecadores. Isso ocorre, porque ele é tanto JUSTIÇA como AMOR.

Por exemplo, no Salmo 11.5, lemos "O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência". Veja que ele não odeia somente a violência (inexistente, sem o praticante), mas "ao que ama a violência" - uma pessoa, o pecador.

Em Pv. 6.16-18 lemos sobre sete coisas que o senhor abomina (odeia): olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre irmãos. Quando lemos essa descrição das "coisas" que o Senhor odeia, vemos que elas não são especificamente "coisas", mas são pessoas que realizam certas ações; a descrição é a de pessoas que Deus abomina. Isso fica bem claro nas duas últimas "coisas" - uma pessoa, ou outra, que é: "testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos".

Não resta dúvida, portanto, que pelo menos nessas instâncias específicas Deus odeia pecadores. Consequentemente, isso deve nos fazer cautelosos de dar uma declaração genérica e abrangente de que ele não odeia pecadores, pois esse ensinamento não pode ser atribuído, dessa maneira, à Bíblia e carece de inúmeras qualificações.

Solano Portela

Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com.br/2009/10/deus-odeia-o-pecado-mas-ama-o-pecador-e.html 
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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Os cristãos e o álcool

 

Por R.C. Sproul 

"Lembro-me de certo jantar em que eu estava com um grupo num restaurante. A garçonete veio nos servir e perguntou: "O que desejam para beber? Alguém gostaria de um drinque?". Um dos nossos anfitriões a cortou dizendo: "Não, somos cristãos". O presunçoso farisaísmo de nosso anfitrião não somente embaraçou a garçonete, que estava simplesmente fazendo seu trabalho, mas passou uma mensagem errada sobre o cristianismo. Cristianismo não é sobre comida nem bebida.

Beber álcool é um assunto controverso na comunidade cristã. Muitos argumentam que Jesus nunca bebeu vinho e que quando os fariseus o chamaram de beberrão estavam distorcendo a verdade. Eles também argumentam que o vinho que Jesus criou nas bodas de Caná era sem fermento. Esse tipo de argumento, contudo, reflete uma péssima e tortuosa abordagem do texto bíblico; isso acontece quando as pessoas abordam o texto bíblico com um viés cultural. Muitos estão convencidos de que a abstinência total é o único caminho espiritual, mas não aprendemos tal coisa das Escrituras - nem do Antigo Testamento ou da celebração da Páscoa. Se fizéssemos um estudo da palavra vinho na Bíblia, veríamos as coisas como são. Deus santificou a bebida e alertou contra o excesso, porque embebedar-se é pecado. Deus não faria advertências contra a embriaguez para pessoas que bebiam suco de uva.

Essa visão é ofensiva para muitos. Os que estão convencidos de que não podem beber vinho, não devem jamais permitir que vinho toque seus lábios, já que para eles isso é pecado. Para outros não é. Nosso irmão não deve nos julgar, e não devemos julgar nosso irmão."

Fonte: R. C. Sproul. Estudos bíblicos expositivos em Romanos. Ed. Cultura Cristã, p. 431.
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